Painel de Políticas Públicas promove discussões de alto nível entre lideranças

Esta quarta-feira (29/1) encerrou o 14º Encontro de Líderes com o Fórum de Políticas Públicas, que contou com três painéis diferentes, cada um com um mediador e três debatedores. O Encontro, que reúne lideranças profissionais do Sistema Confea/Crea de todo o país, está sendo realizado até dia 30, em Brasília, no estádio Mané Garrincha.

Presidente do Confea, Vinicius Marchese

Com o tema “Infraestrutura e o papel dos profissionais técnicos na construção do Brasil”, o primeiro painel do fim da tarde teve como mediador o presidente do Confea, Vinicius Marchese. “Esse debate é uma necessidade vital para o país”, colocou, ao receber os debatedores do painel: Frederico Felini, secretário de Administração de Mato Grosso do Sul; Zé Adriano, deputado federal pelo Acre; e o engenheiro Maia Júnior, ex-secretário de infraestrutura do Ceará.

Frederico Felini, secretário de Administração de Mato Grosso do Sul

Ao iniciar os debates, Vinicius pontuou que Mato Grosso do Sul havia prometido pagar pelo menos o piso salarial a todos os engenheiros do Estado até 2026. “A gente vem buscando essa valorização do servidor engenheiro, mas também com muita preocupação com o crescimento da folha. O custeio trava muito o orçamento, precisamos pensar na eficiência do recurso público”, ponderou Frederico Felini.

Deputado federal Zé Adriano

Para o deputado federal Zé Adriano, um dos caminhos é buscar diálogo com o Congresso e fortalecer a iniciativa privada. “Trata-se de ter a mente aberta para saber do que a sociedade está precisando. Precisamos de bons profissionais”, pontuou. “As novas ferramentas digitais estão preocupando todos os setores e além disso ainda há fuga profissionais”.

Maia Júnior, ex-secretário de Infraestrutura do Ceará e engenheiro civil

“Há 30 anos estamos insistindo no mesmo paradigma de desenvolvimento que é: falta de projeto”, comentou Maia Júnior, ex-secretário de infraestrutura do Ceará e engenheiro civil. “É impossível que a gente possa enxergar o Brasil, em um momento como esse, e dizer que vai ter um ótimo futuro, porque não está tendo nada. O Brasil vai viver um grande apagão no setor de energia. A infraestrutura é fundamental, a logística, a mobilidade,e um monte de coisas que tem que ser pensada e transformada em projeto de desenvolvimento. 

secretário

COP-30 em debate com pesquisadores e atores do evento a ser realizado em Belém

 

COP-30
Com o tema “Os desafios da realização da COP-30 na Amazônia”, o segundo painel do Fórum de Políticas Públicas contou com a moderação da presidente do Crea-PA, eng. civ. Adriana Falconeri. O estado sediará Conferência das Partes (COP-30) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, entre 10 e 21 de novembro deste ano. Os debatedores abordaram os projetos que estão sendo realizados pelo Estado para receber o evento, principalmente relacionados à infraestrutura e saneamento básico. 

O secretário de Obras do Estado do Pará, eng. civ. Ruy Cabral; o eng. agr. Henrique Chaves, professor da UnB e membro da Comissão Temática de Meio Ambiente do Confea 2023/2024, e ainda o vice-presidente do Crea-AM, eng. civ. Sebastião Robson foram os painelistas. 

Secretário

Secretário de Obras do Pará, eng. civ. Ruy Cabral



“Temos a maior reserva hidrográfica; a maior biodiversidade do planeta. Fala-se muito no pulmão do mundo, celeiro do planeta, mas precisamos perguntar o que estamos fazendo pelo pulmão do planeta. Aí começa o desafio para receber esse debate sobre o clima do mundo. Temos a missão junto à secretaria de Infraestrutura de preparar a cidade para receber essas pessoas de forma confortável, sem descaracterizar a nossa cidade. Temos as nossas dificuldades. É ilusão achar que a COP vai acabar com os nossos problemas”, comentou o secretário Ruy Cabral.

Para ele, a engenharia foi chamada para entender as problemáticas e as soluções para os diversos problemas da cidade. “Sempre pensando em deixar um legado”. A hospedagem, a segurança e a mobilidade foram pontos atentados pelas autoridades paraenses. “Traçamos a Poligonal da COP. Mas também imaginamos projetos fora da Poligonal. Através de recursos dos governos federal e do Estado, e com a prefeitura de Belém, iniciamos esse trabalho, identificando os eixos: mobilidade, segurança, infraestrutura, conectividade”, disse, detalhando os projetos desenvolvidos e apresentando um vídeo institucional sobre o evento e as ações.
 

Vice-presidente

Vice-presidente do Crea-AM, eng. civ. Sebastião Robson


Em sua participação, o vice-presidente do Crea-AM destacou a proximidade dos regionais e o desafio enfrentado pelos paraenses. “Vivemos algo semelhante na época da Copa do Mundo”.  Para ele, uma das formas para solucionar os problemas da Amazônia está relacionada à engenharia. “Temos distâncias continentais, um bioma totalmente diferente, uma cultura diferente e a confluência entre o morador da Amazônia, a floresta e o rio”.  

Sebastião Robson considera que a realização da COP-30 na Amazônia representa a oportunidade de colocar em evidência o debate entre a Amazônia teórico-filosófica e a Amazônia de quem vive lá. “Muito se fala da Amazônia nos fóruns internacionais, mas o povo da Amazônia que tem 14% da população nacional sabe muito bem os impactos que a mudança climática está trazendo, matando a biodiversidade, criando um caos social que só quem está lá pode ver. A queimada não é a Amazônia toda. A COP-30 em Belém será uma oportunidade de mostrarmos a Amazônia verdadeira. Sem desenvolvimento aliado à questão ambiental, nenhuma política dará certo na Amazônia”, ressaltou, convidando todos para a Pré-COP, evento a ser promovido pelo Confea, em Manaus, no próximo dia 1º de fevereiro.
 

Henrique Chaves

Professor da UnB e integrante da Comissão Temática de Meio Ambiente do Confea, eng. agr. Henrique Chaves


Ponto de vista similar foi sustentado pelo professor Henrique Chaves. “Os problemas do Brasil e da Amazônia, todos sabemos quais são: déficits de saneamento, dificuldade de transporte, a energia, a alimentação. A questão é se vamos penalizar ainda mais o nosso país ou vamos utilizar a Engenharia, a Agronomia e as Geociências nacionais para fazê-lo desenvolver, gerando riqueza, protegendo o ambiente e dando uma melhor qualidade de vida a todos”, considerou, lembrando a estrutura energética da região. “Essas soluções da Engenharia, da Agronomia, das Geociências, que nós já temos, precisam ser levadas a esse fórum fantástico no final desse ano, em Belém”.

A tecnologia já está presente, ressaltou Henrique Chaves, mas faltam os investimentos para que novas soluções sejam apresentadas. “Para atender essa demanda, podemos levar para Belém exatamente o que temos de melhor, o engenheiro, o agrônomo e os geocientistas e as soluções que nós já temos e que precisamos apenas mostrar”, enfatizou o engenheiro agrônomo.
 

Formação
Já o terceiro painel, “O Futuro da Formação Brasileira na Área Tecnológica”, envolveu a Diretora Nacional do Sebrae e ex-vice governadora do Piauí, Margarete Coelho; o secretário estadual de Indústria, Ciências e Tecnologia do Acre, eng. eletric. Assubarnípal Barbary de Mesquita, e ainda o diretor de Articulação e Fortalecimento da Educação Profissional e Tecnológica do MEC, Claudio Alex. A mediação foi do conselheiro federal e coordenador da Comissão de Educação e Atribuição Profissional do Confea (Ceap), eng. civ. Osmar Barros Júnior. 
 

Diretora Nacional do Sebrae, Margarete Coelho

Diretora Nacional do Sebrae, Margarete Coelho


Para Margarete Coelho, o ensino tecnológico do país foi desprestigiado por muito tempo. “O Brasil investe em educação tecnológica menos da metade do que a média do mundo. Sem investimentos, não temos pesquisas aplicadas, não temos laboratórios, não temos como acompanhar o desenvolvimento mundial”, considerou, falando da importância da “metodologia de ensino baseada em projetos reais” e apontando que esse quadro compromete a soberania nacional. 

Outro desafio explorado por ela é a dissociação entre a academia e o mercado. “Isso dificulta que o nosso ensino conheça a realidade”, disse, chamando atenção para a necessidade de readequar os currículos. Ela destacou o programa de formação de trainees do Sebrae como instrumento de facilitação da transição entre a academia e o mercado de trabalho. Margarete também se posicionou a favor do Novo Marco do Ensino a Distância. “A ausência de marcos regulatórios claros deu margem à proliferação de cursos a distância que trouxeram grandes prejuízos à educação”. 
 

Asubarnípal Mesquita

Secretário de Indústria, Ciências e Tecnologia do Acre, eng. eletric. Asubarnípal Mesquita


Já o professor Asubarnípal Mesquita, ex-conselheiro federal, destacou que o EaD evoluiu e é uma solução inevitável para democratizar o acesso à formação. “Temos muitas desigualdades, e o EaD pode diminui-las. Mas houve um desmonte nos institutos tecnológicos, na adaptação do currículo, apesar dos avanços de algumas universidades. Outra questão é o alinhamento com o setor produtivo, com as necessidades do mercado e atualização dos professores”. 

Ele também ressaltou o acesso do aluno ao que o mercado desenvolve. “Precisamos despertar para o fato que o aluno tem que sair com as habilidades mínimas”. Outro aspecto é a preparação da escola e dos docentes. “Fazer com que o curso seja mais dinâmico, mais próximo da realidade”. Mesquita também se manifestou sobre o EaD, concordando com Margarete que este é um caminho sem volta, mas há prejuízos pela sua forma indiscriminada. “O Novo Marco regulatório está sendo debatido e deverá trazer regras da infraestrutura mínima a ser disponibilizada. Essa é a melhor forma de ter qualidade”.

O representante do MEC, Claudio Alex, considerou que para formar um profissional da tecnologia se leva desde o início da trajetória educacional. “Não há qualquer evolução na compreensão do futuro, se a gente ainda tem problema de conectividade”, disse, listando ações do ministério para fortalecer a formação básica e profissional e chamando atenção para a importância do Pacto Federativo. “Outra ação é a promoção dos ambientes de inovação, o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial. Essas ações, aliadas à requalificação profissional precisam caminhar juntas”.  

diretor de Articulação e Fortalecimento da Educação Profissional e Tecnológica do MEC, Claudio Alex

Diretor de Articulação e Fortalecimento da Educação Profissional e Tecnológica do MEC, Claudio Alex



A pesquisa aplicada com o desenvolvimento de incubadoras e parcerias com o Sebrae foram citadas pelo diretor do MEC. “A preocupação com o empreendedorismo também está presente em programas como o Pronatec. Só assim, a gente faz a relação com o setor produtivo”. Claudio Alex também comentou que o Banco Mundial aponta em relatório recente que o futuro do trabalho se identifica com a atenção para aspectos como as habilidades comportamentais e outras relacionadas à inclusão e à diversidade. “Isso passa pela formação com os nossos professores, por mentorias que temos feito”.

Debatedores reunidos em debate conduzido pelo conselheiro federal eng. civ. Osmar Barros Júnior

Debatedores reunidos em debate conduzido pelo conselheiro federal eng. civ. Osmar Barros Júnior

 

Quanto ao novo Marco Regulatório do Ensino a Distância, ele destacou que “abriu-se uma porteira sem critérios” para a oferta de cursos a distância. “O governo interrompeu essa oferta para discutir com a comunidade acadêmica novas diretrizes dessas ofertas. E agora sairá em breve um decreto que visa à qualidade das ofertas EaD”.  Segundo ele, até 2023, não havia qualquer forma de avaliação da educação profissional tecnológica. “O governo criou uma diretoria dentro do Inep, já instituiu o primeiro modelo de avaliação. São passos”, disse. O conselheiro federal Osmar Barros Júnior considerou que espera que o Sistema possa contribuir com o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira) para a elaboração do novo marco da avaliação de cursos. “Isso foi discutido recentemente no Congresso Brasileiro de Educação em Engenharia – Cobenge. E esperamos poder contribuir”.

Fonte: www.confea.org.br