Os profissionais de engenharia, agronomia e geociências do Amazonas tiveram a oportunidade de participar, nesta quarta-feira (21/8), de debates sobre a importância da ética nas práticas profissionais e seu impacto nas políticas ambientais. Com participação de especialistas no assunto, mais uma edição do Ética na Prática foi promovida pelo Sistema Confea/Crea. Desta vez, em Manaus (AM), durante as comemorações dos 50 anos do Conselho Regional.
Na abertura do evento, a presidente do Crea-AM, eng. pesca Alzira Miranda, salientou a importância da agenda para os profissionais do estado. “A ética é importante em todas as regiões; mas na Amazônia ela é um tanto mais importante por causa da cultura e das distâncias. Por isso, a ética precisa ser rotineiramente lembrada, principalmente, para aqueles profissionais que atuam em áreas mais longínquas, para que eles sempre se lembrem dos preceitos éticos aprendidos na faculdade”, afirmou Alzira, agradecendo a presença de todos.
Na oportunidade, a presidente motivou os participantes a combater o exercício ilegal da profissão. “A ética deve ser uma prática cotidiana na vida do cidadão. E na profissão da engenharia ela é muita mais necessária. Eu não posso deixar que os leigos continuem fazendo os seus trabalhos apenas porque eu, um profissional, fiquei quieto, sem me posicionar, negligenciando o objetivo central da ética na engenharia, que é proteger a sociedade”, frisou a liderança.
Já o coordenador da Comissão de Ética e Exercício Profissional do Confea (Ceep), eng. eletric. Sérgio Maurício Mendonça Cardoso, destacou a temática central do evento: o equilíbrio entre ética, desenvolvimento e sustentabilidade. “O tema meio ambiente perpassa todas as modalidades, uma vez que todos os profissionais interagem com o meio ambiente nos projetos, laudos técnicos e nas obras. Além disso, a preocupação com o meio ambiente é grande, considerando que o desequilíbrio causa desastres, como o do Rio Grande do Sul e queimadas no Brasil. Por isso, devemos nos atentar para este assunto pensando em garantir o futuro das próximas gerações”, comentou o conselheiro federal, que estava ao lado do também conselheiro do Confea, eng. ftal. Nielsen Christianni, e da coordenadora nacional das Comissões de Ética dos Creas (CNCE), eng. amb. e seg. trab. Janeth Fernandes da Silva.
Interseção entre ética e políticas ambientais
A relação entre ética e políticas ambientais foi traçada pelo eng. pesca Renan Amanajás, que é mestre em Produção de Animais Aquáticos e doutor em Ciências Biológicas, além de ser representante do Crea nos conselhos estaduais do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos.
Amanajás explicou que os códigos de éticas são documentos que formalizam a maneira como o profissional deve trabalhar, expressando formalmente quais são os direitos, os deveres e, principalmente, as responsabilidades. “Neste caso, a ética ajuda a tomar decisões conscientes, ter justiça social e responsabilidade profissional, guiando as nossas escolhas do que é certo e errado, sabendo avaliar qual a consequência daquilo que a gente faz. A ética constrói caráter, valores e responsabilidades, nos permite desenvolver práticas justas, seguras, que envolvam respeito para consigo e para com o outro”, detalhou.
Ao falar de meio ambiente, o palestrante lembrou que, há mais ou menos 200 anos, estudiosos alertam que, por mais que a natureza nos sirva, não podemos olhá-la de forma isolada. “Ela não é secundária ao papel do ser humano, o ser humano tem papel convergente ao papel que a natureza desempenha, somos parte integrante da natureza, estamos ligados e sem ela nós não existimos”, afirmou.
Ao relacionar os conceitos de ética e meio ambiente, Amanajás salientou: “O que não é regrado e formalmente regulado pode resultar em tragédia a partir do momento em que a soberania individual, ou seja, aquilo que eu quero e penso sobrepõe aquilo que é benéfico para todo mundo”. Por isso, o papel do Estado é regular e instituir mecanismos legais para que determinado tema possa ser adequadamente tratado, segundo o especialista. “Os códigos ambientais que temos hoje servem para dizer: ‘você pode usar até este ponto; mas, apesar do seu uso, a gente tem instrumentos que vão regular a sua devolução do dano que você produz para a natureza’”, pontuou.
De acordo com Amanajás, a ética baliza a política ambiental para que cada pessoa entenda que não é sozinha, mas que existem outras pessoas, e que seu comportamento afeta o outro. “A política ambiental materializa as preocupações éticas em ações que são concretas e transforma isso em regulamento.”
Nessa linha de responsabilidade compartilhada, Amanajás defende o diálogo constante sobre as grandes e atuais pautas éticas, como mudança do clima, poluição e perda de biodiversidade. “Precisamos discutir e rever quais são os nossos valores morais e científicos para encontrar formas de mitigar os impactos que a gente tem sofrido por conta do nosso avanço sobre o meio ambiente”, concluiu.
A ética nas atribuições e qualificações profissionais
Na sequência, o evento seguiu com o painel sobre ética nas atribuições e qualificações profissionais. O mestre em engenharia civil Fabrício Rodrigues comentou sobre como o professor pode interagir com os alunos, projetando-os para o mercado de trabalho. “É um desafio diário fazer com que a ética não seja apenas uma reflexão, mas que seja uma ação que foi pensada para ser tomada. É essa habilidade que buscamos desenvolver nos futuros profissionais”, afirmou.
Já a doutora em Agronomia Tropical Priscila Tregue reforçou que competências e habilidades, como trabalhar em equipe, saber ouvir e liderar, são a base de um comportamento ético profissional. “Desenvolver soft skills e conseguir desenvolver habilidades para lidar com o outro são fundamentais para a questão profissional e isso está diretamente relacionado à ética”, pontou.
Fonte: Confea