Confea recebe assessores de Creas Júniores para falar sobre mudanças culturais

O Confea realizou nesta quarta-feira (6/9) o 2º Encontro Nacional de Assessoria ao Crea Jr (Enasc). No plenário do Confea, assessores e coordenadores dos Crea Júniores. As mudanças de cultura no Sistema foram ressaltadas pelo presidente em exercício do Confea, o eng. eletric. Evânio Nicoleit e nas apresentações do assessor parlamentar Walter Bittar e do coordenador da Comissão do Crea Jovem São Paulo, o engenheiro eletricista Raoni Lourenço Andrade Ramos.

Ao lembrar da sua formação em 1993 até a atuação do seu filho, eng. eletric. Sérgio Forte Ramos, no Crea Jr de Santa Catarina, o presidente em exercício discorreu de forma emocionada, destacando os principais méritos da participação deste púbico junto ao sistema profissional. “O Crea Jr também contribui com ética e com todas ações do Sistema”, afirmou.

Presidente em exercício do Confea, Evânio Nicoleit e coordenadora distrital do Creajr-DF, Júlia Enéias
Presidente em exercício do Confea, Evânio Nicoleit e coordenadora distrital do Creajr-DF, Júlia Enéias

 

Evânio enfatizou as presenças dos superintendentes Renato Barros (Superintendência de Estratégia e Gestão) e Sílvia Cunha (Superintendência de Integração do Sistema) e do assessor da presidência do Confea, eng. civ. Samuel Ribeiro, demonstrando o interesse do Confea pelo tema. “Estamos aqui também representados com as cinco gerências regionais dos 27 Creas e ainda representantes da assessoria parlamentar do Confea”, disse.

Assessora da presidência do Confea e assessora do Crea Jr no Confea, a engenheira civil Mariana Costa abriu os trabalhos agradecendo ao presidente em exercício por ter acreditado na parceria e a todos os assessores que estão no dia a dia do Crea Jr, “um dos programas mais consolidados do Sistema Confea/Crea”.

O conselheiro federal eng. agr. Cândido Carnaúba Mota considerou que “esse evento é um divisor de águas, tem uma programação muito importante para planejar as metas e ações para 2024 para que as iniciativas planejadas possam acontecer”.

Coordenadora do Crea-Jr Nacional,  eng. quim. Ingrid Reinehr
Coordenadora do Crea-Jr Nacional,  eng. quim. Ingrid Reinehr 

 

Coordenadora do Crea Jr Nacional, a eng. quim. Ingrid Reinehr afirmou que o Crea Jr “é um programa que está aí há 23 anos e vem se tornando referência nacional e internacional. É muito importante ter à frente do Confea alguém que entenda a realidade das universidades”, disse, referindo-se ao fato de o presidente em exercício ser professor universitário, além de acompanhar de perto toda a história da institucionalização do Crea Jr no Sistema.

Mudança histórica
“Quisera eu e diversos presidentes que a gente tivesse esse programa no nosso tempo de escola. Não tínhamos. Dessa forma, a gente vê a importância desse programa, não só de formação de liderança, mas de cidadania, de preparação para o exercício das profissões e a consolidação das nossas profissões, para conhecimento e posicionamento da sociedade, nas universidades, no país e fora do país. No âmbito dessa memória afetiva, já entendendo as dificuldades das escolas em receber o programa, passei a ser um defensor na condição de professor, em defesa também dos estudantes como colegas de profissão, profissionais em formação”, apontou. 

O presidente em exercício do Confea citou casos de profissionais de Santa Catarina ao comentar que vários ex-alunos e ex-alunas seus que passaram pelo Crea Jr no estado hoje ocupam cargos públicos e da inciativa privada e também atuam no Sistema. “Isso mostra a importância do Crea Jr na identificação e formação de talentos. Hoje, esse programa é referência nacional. E aí a gente entende o porquê da grande participação no Encontro de Líderes e também na Soea, ocupando lugar de destaque, com estande para a divulgação das ações e divulgando o programa e o Sistema”, disse, parabenizando também os assessores “que alavancam esse grande programa”. 

“Na nossa gestão, temos o compromisso de deixar esse legado, avançar o programa para que ele tenha visibilidade e protagonismo. Alguns Creas ainda enfrentam preconceito por alguns conselheiros, mas há um trabalho para que o Crea Jr resista e avance. E vocês vão contar com o compromisso desse plenário e da assessoria na figura da Mariana. Mas vamos também cobrar por resultados e desafios. Ontem, estávamos no Conemi (Congresso Nacional da Engenharia Mecânica e Industrial), em Vitória, e havia representações de diversas associações de classe do Sistema. E esse programa a gente está levando para a Federação Mundial de Organizações de Engenharia (Fmoi) e também para a Confederação Panamericana de Engenharia Mecânica, Elétrica e Afins (Copimera) e para todas as organizações que a gente tem oportunidade de receber. Eles ficam não só encantados, mas buscando compreender, conhecer o programa Crea Jr entre outros programas, como o Programa Mulher, o Programa Crea Jovem que, no âmbito do Confea, está em processo de instrução de comissões. Ou seja, são muitas ações que a gente por desenvolver, divulgar e ampliar. Foguete não dá ré, e Crea Jr também não. É um programa que a gente quer avançar, enfrentando as resistências do próprio Sistema”, enfatizou.

Representantes dos 27 creasjr participam do 2º Encontro Nacional de Assessoria ao Crea Jr
Representantes dos 27 creasjr participam do 2º Encontro Nacional de Assessoria ao Crea Jr

 

Segundo o presidente Evânio Nicoleit, o Crea Jr tem uma importância fundamental para o Sistema Confea/Crea na atualidade. “Na condição de professor e gestor de universidade, o Crea Jr é o programa que mais conecta as instituições de ensino ao conselho profissional. O representante das instituições de ensino no plenário não consegue fazer toda a interlocução no âmbito da instituição de ensino, mas o Crea-Jr consegue.  Porque ele vai direto na base, os profissionais em formação. E a gente tem a obrigação de reconhecer esse valor dos nossos futuros profissionais e colegas em formação”, disse, informando que de 18 a 20 de dezembro será realizado o Encontro Nacional do Crea Jr, em Aracaju, simultaneamente ao Colégio de Presidentes, que será realizado no Rio de Janeiro. “Já assumi o compromisso com a Ingrid que eu vou estar no Enasc. É um compromisso para a gente poder contribuir para avançar”.

Ao assumir o exercício da presidência do Confea, Evânio destaca a felicidade de poder haver participado das decisões e enfrentamentos mantidos pelo Confea no ano passado. “Ter participado das conquistas que obtivemos, entre elas a realização deste Encontro, o que foi apoiado pelo plenário, apesar da resistência. Na Soea, além da participação com o estande, assumo o compromisso de lutar para a gente estar cada vez mais fortalecido e cada vez mais institucionalizado. A gente tem que acreditar. Estou há um ano e nove meses no mandato, e as deliberações do Crea Jr estão entre as principais que tive a oportunidade de estar à frente”, disse, emocionado ao lembrar que seu  filho, conselheiro regional do Crea-SC, é ex-participante do Crea Jr. 
 

Institucionalização e papel do Sistema
Assessor parlamentar do Confea, o cientista político Walter Bittar comentou a respeito da tramitação e  atualização do PL 1.024, lembrando que o tema foi debatido no encontro do ano passado pelo procurador jurídico-chefe do Confea, Igor Garcia. “Ele fez uma avaliação quanto à institucionalização do Crea Jr por meio do PL 1.024. Naquela ocasião, nós consideramos que, por já existir uma decisão plenária pela institucionalização do Crea Jr, isso já era um grande passo, pois não havia esse amparo anteriormente. Uma vez que já exista uma manifestação favorável para que o Crea Jr passe se constituir dentro do Sistema Confea/Crea, é possível fazer a reformulação do texto que está aprovado na Comissão de Trabalho. Hoje, a assessoria parlamentar já tem uma sugestão de texto que vise corrigir o vício apontado pelo doutor Igor, e na oportunidade que esse texto voltar a ser debatido na Comissão de Finanças e Tributação, a gente vai propor um texto para corrigir o vício de técnica”, disse, explicando também a tramitação da matéria junto ao Congresso e ao Palácio do Planalto. “Já fizemos várias reuniões com o deputado Paulo Guedes, presidente da Comissão, para que o governo entenda que o nosso projeto não tem impacto orçamentário. Esperamos que isso possa se desenrolar nos próximos dias”, comentou.

Em seguida, o assessor parlamentar considerou a importância de discutir o papel institucional do Crea Jr a partir do  “Papel institucional do Sistema Confea/Crea” como um todo. “São questões básicas, como para que serve o Sistema Confea/Crea? Será que a sociedade compreende a necessidade de um conselho de classe? A assessoria parlamentar é um trabalho com relações institucionais e governamentais  e para isso preciso entender a função da nossa instituição e qual a imagem que a sociedade tem dela. Existem críticas infundadas? Tudo isso faz parte da nossa responsabilidade de prestar contas, ‘accountability’, mesmo que nem sempre as críticas sejam pertinentes”, considerou. 

“A gente tem visto que o Sistema Confea/Crea elevou a sua participação institucional na sociedade. Isso é inegável”, disse, citando o exemplo da ação parlamentar do Café & Política, durante o Encontro de Líderes deste ano, e a criação da Frente Parlamentar das Profissões do Sistema Confea/Crea e Mútua. “Isso era necessário porque ainda existia pouco conhecimento dos parlamentares sobre o Sistema. Esse desconhecimento só vai ser reduzido se existir uma atividade constante de reafirmação institucional, tanto para a sociedade, como para as instituições”, afirmou Walter Bittar.

A necessidade de participação dos profissionais foi então destacada pelo assessor parlamentar. “A gente é fruto do comportamento do próprio profissional. E é o Crea Jr que vai trazer todo esse desejo de participação institucional aos jovens que vão compor o Sistema Confea/Crea”, disse, destacando a ampliação da presença do Sistema em debates de temas como defensivos agrícolas. “Nossa atividade institucional vai além da atividade parlamentar, ela envolve uma série de ações que permeia a comunicação, a atividade programática institucional. Esse trabalho vem sendo feito, espero que seja continuado pelas próximas gestões, mas ele precisa ser assimilado pelos estudantes, pelos membros do Crea Jr”.
 

Moral, Ética e Ética Profissional
“Quando a gente fala de uma profissão é preciso falar de ética. Para discutir o mal exercício profissional, a gente precisa entender sobre moral, ética e ética profissional”, disse Walter Bittar, definido a primeira como “uma regra que orienta o comportamento do indivíduo em algum contexto”. Já a ética seria “um ramo da Filosofia que tem como objetivo refletir sobre os costumes da sociedade, incluindo os morais”, enquanto a ética profissional se refere a “um conceito que busca explicar qual comportamento é considerado correto ou incorreto no ambiente profissional”. 

O assessor parlamentar citou a criação do Programa Mulher, no âmbito do Sistema Confea/Crea, como voltado à “criação da afirmação da mulher e a impor regramentos éticos para que a mulher não sofra discriminação no seu ambiente de trabalho”. Para ele, a efetividade do Programa depende de seu debate no campo ético. 

“Quando a gente tem uma atividade técnica, especializada, existe uma relação desigual, comercial. ‘Conhecimento é poder’, dizia Francis Bacon. A ética profissional serve para equilibrar a relação entre o cliente e o profissional. Para estabelecer um limite do lucro. Estabelecer um parâmetro de conduta, um limite ético para a remuneração do profissional. Em tese, é para isso que existe um conselho de profissões que afetam a saúde humana, ambiental ou animal. E aí se inserem as profissões do Sistema Confea/Crea”.
 

Lógica de consumo
“Hoje existe uma mudança de comportamento. Pessoas que consomem bens de uma maneira mais responsável. Que estão mais preocupadas se o produto que consomem é sustentável, se tem trabalho escravo, se é vegano, se faz testes com animais. Por isso, empresas que usam trabalho escravo são contestadas não só pelos efeitos legais, mas também pelo comportamento do consumidor. Na década de 1990, havia uma lógica de consumir gastando menos. Hoje, existem outras variáveis na lógica de consumo que também norteiam as relações comerciais entre as empresas”, disse, informando que o ex-presidente da ONU, Kofi Annan, orientou, em 2004, que as instituições financeiras incorporassem como métricas de avaliação variáveis que iriam além dos resultados financeiros, métricas de sustentabilidade. “E aí se verificou que sustentabilidade também rendia dinheiro”.

O assessor destacou que “a crise institucional é sobretudo uma crise ética da sociedade”. Segundo ele, o papel de zelar pela ética foi deixado de lado pelas instituições ao longo dos anos. “A mensagem da ONU para o mundo, por meio do Pacto Global, é praticamente que as empresas invistam seu dinheiro em sustentabilidade porque as instituições e governos que deveriam fazer isso não fazem. E daí a gente fala em ESG (Governança ambiental, social e corporativa, na tradução para o português). O Sistema Confea/Crea é signatário desse Pacto, que estabelece os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, ressaltou.

Walter Bittar argumenta que as lutas do Crea Jr. e do Programa Mulher envolvem a transposição da atividade precípua do Sistema Confea/Crea e Mútua: a fiscalização. “Isso era muito criticado. Por que temos que falar sobre o mercado de trabalho para as mulheres? É justamente por isso. Porque hoje existe uma necessidade da sociedade de resgatar o papel institucional. Então, o Programa Mulher e o movimento Crea Jr são resultados dessa necessidade de mudanças das instituições. O Crea Jr foi uma batalha árdua aqui. A responsabilidade com a sociedade depende da participação de todos. Ressoar essa análise do papel institucional é o grande papel do Crea Jr”, apontou, apresentando exemplos da necessidade da atuação dos profissionais habilitados pelo Sistema na sociedade atual.
 

Pensar Jovem 
Coordenador da Comissão do Crea Jovem São Paulo, o engenheiro eletricista Raoni Lourenço Andrade Ramos descreveu a prática de algumas dessas mudanças ao apresentar o tema “Planejamento e padronização das ações do Crea Jr e Crea Jovem em 2023”.  Há dois anos na comissão, ele abordou a flexibilidade de ações vivenciada entre o regional e as instituições de ensino paulistas. “Nossa marca é o Crea + Jovem. A nossa comissão é permanente há 15 anos, buscando levar fazer essa conexão do Sistema com estudantes, recém-formados e instituições de ensino. Os jovens não têm muita oportunidade de conhecer o Sistema. Nosso intuito é que essa informação chegue mais próximo a eles”, diz.

A definição de “pensar jovem”, segundo ele, estaria relacionada à inovação, ao empreendedorismo. “Muitos cases de sucesso saíram do meio acadêmico. É interessante ver como o avanço desses conteúdos são mais rápidos do que antigamente. Então, devemos pensar jovem, acreditar em tudo o que a gente nunca imaginou e que começa a acontecer. Para pensar jovem precisamos enxergar as plataformas de oportunidades que temos na universidade, como as comissões e diretórios acadêmicos, que estão tão apáticos que os jovens não conseguem encontrar essas ferramentas para poderem dispender todo aquele interesse que ele tem”, considera.

A evasão dos jovens à formação em engenharia não foi atribuída pelo coordenador à falta de divulgação sobre a profissão. “Nós temos uma evolução muito grande, mas será que a didática aplicada à engenharia está evoluindo também nas instituições de ensino? Quais os interesses dos jovens? Hoje em dia, a universidade não brilha mais nos olhos dos estudantes. Então, temos que buscar criar ferramentas mais imediatistas. O jovem não quer mais ficar escrevendo em um caderno o que está no quadro preto. Não que nós não precisemos ter a habilidade de fazer contas na mão, esse desenvolvimento ainda é necessário. Mas o que mais podemos agregar para que consiga interessar esses jovens?”, questiona.

As “conexões” desenvolvidas pelo Crea-SP Jovem envolvem, além das comissões e diretórios acadêmicos, plataformas como os grupos de estudo, incubadora de empresas, workshops/cursos e semanas culturais. “Afora isso, nós também conseguimos fazer com que esses jovens pensem na sociedade onde vivem. Se eles têm realmente o interesse de buscar a engenharia, eles conseguem estar dentro da sociedade, das ações em seus municípios e procurar pessoas fomentadas na engenharia. E isso eles encontram nas comissões municipais, associações de engenharia, nos editais de chamamento público, nas associações comerciais, nas atividades esportivas, nas iniciativas sociais e profissionais”.

Essas conexões estão relacionadas a mudanças culturais que mudam também o foco empregatício dos jovens profissionais. “Havia o sonho de trabalhar em um escritório de construção civil. Hoje, os engenheiros saem mais empreendedores do que propriamente engenheiros. Porque eles querem criar, não querem ficar em um escritório fazendo projetos, subordinado a alguém. Então, a gente começa a mudar essas culturas. Temos muito mais engenheiros empreendedores do que engenheiros técnicos, a gente começa a ter um perfil diferente da engenharia. Para tudo isso, a gente precisa ter ferramentas diferenciadas. Daí a importância de nós pegarmos essa sementinha no Crea Júnior, em que você já começa a transformá-los em líderes para a sociedade. O pessoal que está no Crea Jr já se constitui em lideranças muito fortes. E no Crea Jovem também. E com essa ligação, vamos começar a colher frutos”, disse, sugerindo ainda que os jovens engenheiros se preocupam em criar sem burocracias e processos, exercitando a função na prática.

Por fim, Raoni considera que o papel do Crea Jovem nesse processo é o de “mostrar que tudo o que nós estamos propondo é possível. E tem um lugar onde eles podem buscar essas informações, o conselho profissional, que acaba proporcionando um embasamento, sendo uma ferramenta a mais no seu dia a dia de trabalho. Então, o conselho traz ferramentas para que o jovem possa usufruir na faculdade e fora da faculdade”, diz, ressaltando a continuidade do papel fiscalizatório das competências profissionais, desempenhado pelos conselhos, apesar das suas permanentes renovações.

 

Fonte: Confea