A estudante Luciana de Oliveira dos Santos, de 20 anos, foi a primeira colocada no vestibular de engenharia do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), entre os que buscavam uma das vagas de carreira militar. Na lista de vagas da carreira civil, um homem ficou na primeira colocação.
Quem é Luciana
°Foi aprovada em engenharia em um dos vestibulares mais difíceis do país
°Natural de Recife, Luciana saiu de casa em 2021 para estudar
°Primeiramente, foi para Fortaleza
°No início deste ano, mudou-se para São José dos Campos (SP)
"Fico muito longe da minha família e a passagem não é nada barata. Em Fortaleza, eu ainda conseguia ir de ônibus [para Recife]. A insegurança batia. Ficar longe da família com esse sentimento é complicado"
Reprovação no teste físico
°Decisão pela vaga privativa (de carreira militar) foi tomada como um desafio pessoal.
°Antes, ela passou no IME (Instituto Militar de Engenharia), no Rio, mas foi reprovada no teste físico - que é eliminatório na instituição.
°No ITA, a avaliação física não é exigida no início, mas no segundo ano e sem caráter eliminatório - em caso de reprovação, a consequência é perder a vaga na carreira militar.
°Ela também se prepara com exercícios físicos diários para este momento.
°A escolha do tipo de engenharia será feita após dois anos de curso.
"Apesar da frustração de reprovar em algo que é essencial na carreira militar, me senti estimulada a quebrar essa barreira, do mesmo jeito que quebrei a barreira de não querer parar por aqui e de não desistir depois de quatro anos tentando [entrar no ITA]"
'Ia mal em simulados'
Para Luciana, a melhor maneira de estudar não existe — é muito individual. E a dica é não se abater pelo primeiro sentimento negativo.
"Quando eu cheguei [no cursinho], foi um baque. Ia mal em simulados, tinha problemas que pareciam impossíveis de resolver. Mas esse é um sentimento normal de quem entra. Você tem 17 anos e tem, na sua sala, pessoas de 23 anos já com certa experiência, uma bagagem"
Como era a rotina:
°Acordava por volta das 6h30 e, às 9 horas, pegava nos livros.
°Estudava até as 13 horas, quando seguia para o cursinho.
°A aula ia até a noite. A rotina se repetia também aos sábados.
°Domingo era dia de simulado.
"É uma rotina puxada, estudar era basicamente tudo o que eu fazia. Todos os dias eu tinha de aprender uma coisa nova, isso me deixava mais animada. As orientadoras falavam que eu estava enchendo uma garrafinha com conhecimento. Poderia não ter chegado ao topo ainda, mas eu estava enchendo. Essa é a ideia de estar em um processo"
"Foram quatro anos de muito sufoco e pressão psicológica. De sentir que estava ficando para trás, já que meus amigos da escola já estavam na metade do curso. Isso bate muito e desanima. Conseguir essa vaga é um alívio"
Uma escola masculina
°O ITA é uma instituição de maioria masculina e nem sequer aceitava mulheres até 1995.
°A primeira turma com formandas mulheres (duas) concluiu o curso em 2000.
°A busca pela instituição ainda é muito maior entre o público masculino.
°Neste ano, só 6% dos aprovados são mulheres. Elas ocuparão 9 das 150 vagas.
"Ser a 01 nem eu esperava. Trouxe um significado especial para muitas meninas que podem estar em dúvida [de seguir um sonho]. O primeiro lugar se tornou muito mais simbólico neste aspecto do que uma vitória pessoal minha"
Luciana espera que a sua aprovação estimule mulheres que desejam prestar a prova do ITA.
"É muito ruim esse sentimento que algumas meninas podem ter de se sentir diferentes [por querer estar no ITA]. Mas é um espaço que a gente pode pertencer, que estamos sendo bem-vindas e muita gente nos apoia. Estamos ocupando um espaço e sendo acolhidas por todos. Tentar de novo não desmerece sua capacidade intelectual"
Fonte: UOL