O portal acadêmico Research.com divulgou a segunda edição do ranking de melhores cientistas em diversas áreas do conhecimento. Na categoria "Ciência de Plantas e Agronomia", dentre os 2.000 cientistas globais, 52 são brasileiros, sendo notável a presença de nove mulheres, entre elas a eng. agr. Mariangela Hungria. O feito não apenas evidencia a excelência da pesquisa brasileira, mas também levanta discussões sobre a representatividade feminina e os desafios da pesquisa no país.
A engenheira agrônoma Mariangela Hungria, doutora em ciência do solo e pesquisadora da Embrapa, que já havia sido agraciada com as Honrarias do Mérito do Sistema Confea/Crea em 2018, e ano passado foi reconhecida como a segunda cientista mais influente na categoria pelo portal acadêmico internacional.
Ao analisar o ranking, Hungria explica a participação feminina, ressaltando que para atingir esse estágio demanda um elevado nível de publicações, geralmente alcançado quando a profissional está no ápice da carreira, acima dos 50 anos. “Tenho certeza que esse quadro vai ser revertido, pois a cada ano acompanho cada vez mais mulheres entrando para a agricultura, fazendo pesquisa na área da agronomia. A mulher tem vocação para pesquisa, temas como produção de alimento, segurança alimentar chamam atenção delas”, disse.
A cientista destaca a importância de uma política de pesquisa robusta na agropecuária brasileira, pontuando que o baixo número de mulheres e a escassa representação de brasileiros na lista de cientistas influentes indicam a necessidade de aprimorar o apoio à pesquisa no país. “Sempre falo que no Brasil a gente não faz pesquisa, a gente faz milagre com os recursos que recebemos. Eu já trabalhei na Europa, nos Estados Unidos, na Austrália, e é totalmente diferente. Precisamos trabalhar nessa política de pesquisa para que tenhamos mais expressão em rankings como esse”, defende.
Ao ser surpreendida pelo reconhecimento como uma das cientistas mais importantes do mundo, Mariangela estabelece uma meta clara: contribuir para que mais mulheres figurem em listas como essa que reconhecem o trabalho do pesquisador. Além de seu papel como orientadora, ela destaca seu envolvimento ativo em políticas públicas por meio da Academia Brasileira de Ciências. “Meu objetivo é impulsionar a ampliação da pesquisa na agropecuária brasileira e, simultaneamente, aumentar significativamente a representação feminina nesse cenário”. Essa abordagem ativa e comprometida sugere que a mudança está em curso, e Mariangela se coloca como uma agente determinada a impulsionar esse movimento.
No quesito distribuição de bolsas de estudo pelo país, as mulheres ainda são minoria na ciência brasileira. Do total de bolsas, 64 % são ocupadas por homens; e somente 36% são destinadas para as mulheres. Em relação à distribuição de áreas, as exatas e engenharias concentram o menor número de mulheres, cerca de 20%, de acordo com dados levantados pelo Parent in Science da base do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) por meio da plataforma Fala.br. “Temos de avançar na questão do suporte às mulheres na maternidade. Elas querem ser cientistas, pesquisadoras, mas elas também têm o direito, se quiserem, de ser mães”, argumenta Mariangela.
Embrapa
Ainda sobre o Research.com, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) teve 21 de seus cientistas integrando o ranking global de 2023. Além de Mariangela Hungria, outras cinco mulheres aparecem no ranking, são elas: Vera Reis, Johanna Döbereiner, Luciana Regitano, Ana Carolina Chagas, Joice Ferreira.
Para definir a colocação dos profissionais na listagem, são analisados o número de artigos e a quantidade de citações, além de fatores como prêmios, bolsas e demais reconhecimentos concedidos por instituições de pesquisa e agências governamentais. O estudo coletou informações em dezembro de 2022 e considerou 26 áreas em 60 países, com quase 167 mil pesquisadores, sendo 2.000 da área de ciências agronômicas.
No Sistema
Desde que foi implantado, em 2019, o Programa Mulher tem desenvolvido ações para aumentar a participação das mulheres nos cargos de lideranças do Sistema Confea/Crea e Mútua. Na última eleição, foram eleitas oito presidentes de Regionais, duas novas conselheiras federais e ainda cinco diretoras gerais e oito diretoras administrativas das Mútuas – Caixas de Assistências dos Profissionais dos Creas. Cinco mulheres também foram eleitas para as diretorias financeiras da Mútua.
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Fonte: Confea