‘Mulheres Fantásticas’: brasileira transforma experiência dolorosa em missão de vida

No mês da mulher, “Mulheres Fantásticas” homenageia Simone de Beauvoir, filósofa francesa que ajudou a criar o movimento feminista, e conta a história da engenheira brasileira Cristina Pinho, que desbravou com extrema competência um universo bastante masculino, e transformou uma experiência dolorosa em uma missão de vida.

 

 

Cristina foi criada para ser uma “mulher prendada”: fez francês, balé e estudou em colégio de freira.

 

“Minha mãe, uma mulher branca casada com homem de ascendência negra, não queria que a gente sofresse algum tipo de humilhação”, conta.

 

Ela prestou vestibular para Engenharia Mecânica na Universidade de Brasília e, para orgulho dos pais, passou em 12º lugar.

 

“Em uma turma de 90 pessoas, nós éramos 6 mulheres. E ainda tinha muito, porque o ano anterior só tinha uma”, diz.

 

Cristina conta que sofria mais preconceito dos professores do que dos outros alunos.

 

“O professor responsável na época virou para mim, muito sério, e falou assim: ‘E você? Está fazendo o que aqui?’. Falei assim: ‘Vim fazer inscrição para engenharia mecânica’. E ele: ‘Você não acha que o seu lugar não é no fogão, não?’”, conta.

 

Já formada, Cristina Pinho fez concurso da Petrobras: “Tenho orgulho de ter sido a primeira gerente-executiva de engenharia submarina da Petrobras, de ter sido a primeira conselheira da indústria de óleo e gás”, comemora.

Casada, mãe de três filhos, a engenheira transformou uma experiência dolorosa em uma missão de vida. Ela perdeu a filha Luisa, que tinha 20 anos, em um acidente de carro nos Estados Unidos.

 

“Foi assim uma coisa totalmente absurda. Ela era ativista e trabalhava no Médico Sem Fronteiras. Ela era muito, muito, muito interessante. A gente transformou a dor num trabalho que eu tenho muito orgulho. Eu e meu marido fundamos o Instituto Luísa Pinho Sartori, que é voltado para preservação da biodiversidade”, conta Cristina.

 

Cristina e o marido resolvemos ter um viveiro de mudas de árvores nativas para Mata Atlântica - que também era um sonho da Luisa.

“Quando nós compramos essa propriedade, ela tinha boi, tinha gado. Agora tem essa floresta linda aqui que nos conecta sempre com a natureza e com a Luísa, cada vez que a gente vem aqui. Ela nos inspirou a tocar esse projeto e, desde então, sempre que a gente vem a aqui, a gente se sente mais próximo dela”, diz.

Cristina trabalhou na Petrobras durante 31 anos e também foi diretora do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás. Hoje, continua ligada ao setor - agora, com o olhar voltado para a sustentabilidade. Ela também faz parte de um grupo de executivas que ajudam mulheres que queiram crescer no setor de óleo e gás.

 

“Nós somos mentoras de jovens que são indicadas pelas empresas associadas. Para que a gente acelere a carreira dessas mulheres para serem gerentes e chegarem ao topo mais rápido que nós chegamos. Eu descobri ao longo do tempo que não tem nada mais poderoso para outras mulheres do que elas verem que tem uma mulher lá. Isso é poderosíssimo. Uma puxa a outra, a gente tem uma sororidade muito forte”, afirma.

 

Cristina acredita que a dor da perda da filha influenciou na mudança de seu olhar.

“Eu enxerguei que a missão da Luísa tinha um valor absurdo. Então, eu me senti muito até privilegiada de ter tido essa menina na minha vida. Realmente. A pessoa só morre quando ela não é mais lembrada, não é verdade? Aquela dor ela vai existir o resto da vida. Mas ela vai estar num cantinho ali controlada. Eu sinto muita saudade da minha filha todos os dias. Mas também tenho muito orgulho do que eu aprendi com ela. Muito”, afirma.

Assista à entrevista da engenheira Cristina Pinho na íntegra, acessando o link ao lado: Mulheres Fantásticas

Fonte: Fantástico